Geleia de Mocotó

Cresci comendo geleia de mocotó feita pela minha mãe. Os adultos se refestelavam com a carne feita em forma de salada e nós crianças, tínhamos que esperar o dia seguinte para a geléia ficar pronta. Foi aí que resolvi experimentar a carne também, e até hoje adoro.

Foi um grande desafio para meu paladar infantil. Quanto a geleia, o sabor também era totalmente inesperado. Quando oferecia para meus amiguinhos da escola, eles achavam que iam comer aquela coisa borrachenta branca e rosa, lembram ? Ou mesmo a “Colombo”, que era vendida em copinhos, talvez honesta, mas de gosto duvidoso. (essas referências são para maiores de 50 anos…hehehe). Mas o sabor da nossa geléia era inigualável, todos se apaixonavam.

Havia duas receitas correntes em minha família: mamãe preparava com leite, açúcar e canela. Vovó, italiana e com um espírito bem mais hedonista do que o de minha mãe, preparava com vinho do porto. Adorava as duas, mas confesso que preferia a com vinho do Porto em sua transparência amarelada e o pecaminoso gosto alcoólico. Pra não ficar “nem tanto ao mar, nem tanto a terra”, pensei numa versão mais moderna onde o café, chocolate e pimenta podem conviver com o doce e sem esquecer um pouco de álcool, que realça os sabores. Muito bom!

Se você não gostar da carne do mocotó ou o “pé de boi”, como dizia sempre a Tonha, uma querida cozinheira baiana que trabalhou comigo nos anos 80, você pode doá-lo. Tenho certeza que muita gente adora. Ou então faça como eu, tente desafiar seu paladar. Nunca é tarde para acrescentar novos sabores em nossa paleta gustativa.