O bolo de araruta trazido pela minha tia-avó, que sempre nos visitava, continua um mistério indecifrável! Já percorri os receituários da família e não consigo achá-lo. A araruta também desapareceu do mercado. Sites que prometem entregar a fécula terminam em emails que retornam sem achar o destinatário.

A lembrança do bolo desmanchando na boca, invariavelmente servido com café nas tardes da minha infância, se mistura com a saudade desses meus tios tão singulares. Tia Cândida era a irmã mais nova de minha avó materna. Na juventude conheceu tio Luiz, com o qual se casou no amor e na convicção política. Não tiveram filhos, coisa rara naquela geração. Militantes do movimento anarquista e colaboradores do jornal “La Battaglia”, segundo a lenda familiar parece que pegaram em armas.

Nunca imaginei nada parecido quando visitava sua minúscula casa numa vila operária no bairro do Brás que, de tão pequena parecia de bonecas. Havia rendas brancas sobre madeiras escuras, vasos de murano espalhados por tudo com cores inesperadas para aquele ambiente.

Quando morreram, herdei os exemplares do jornal anarquista, que doei para a biblioteca da FFLECH USP. Hoje, nem imagino como era fazer este bolo entre carabinas, perseguição política, lá estava ela, fazendo o bolo de araruta para compartilhar com a família.

A receita nunca apareceu. Essa que recriei é totalmente diferente. A textura do polvilho é muito mais elástica. Por ser uma nova versão, bem mais anarquista que a original, coloquei o que meu paladar mandou. Ficou interessante! Mas ainda hei de reproduzir a verdadeira e dividir com vocês o doce sabor com as não menos doces lembranças.

 

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