Às vezes um milkshake é só um milkshake. Outras, ele pode ser um relicário de lembranças.
Em cada nota de seu sabor, imagens, sons de gargalhadas e até o perfume daquela pessoa que não está mais por aqui nos atualiza. Essa receita foi criada pelo Claudio, meu marido, pai dos meus filhos e que nos divertiu durante 26 anos de nossas vidas. Emocionou e conduziu meu olhar a enxergar “La vie en rose”. Não um rosa bobinho, fácil, mas aquele com a disposição engenhosa para perceber que o sentido da vida é a vida. Óbvio, não? Tão óbvio, que às vezes atropelamos.

Ele sempre batizava o milkshake com licor e rum para agraciar seu paladar hedonista. E, reivindicava invariavelmente reparos no pavê de chocolate preparado por minha mãe dizendo: “insonso. Parece que veio do Convento das Madres Carmelitas. Falta rum!”.

Quando o conheci no terceiro ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), me encantei com seu traço solto e divertido de cartunista, que praticou até o ultimo momento em que viveu. A piada, que ia da vida ao trabalho, sempre permeou suas ações imortalizadas em minhas memórias e nas páginas do Jornal da Tarde e Estadão. Mesmo nos tristes momentos praticava molecagens, como pilotar a cadeira de rodas rumo à sala de radioterapia. Tinha a expressão radiante de uma criança com sua primeira bike ou de promover contrabandos gastronômicos de sushis, paeja e lula in su tinta para o monótono quarto do Hospital Osvaldo Cruz, de São Paulo.

Conjugamos todos os sabores numa deliciosa cumplicidade da vida e sempre volto a atualizá-los nessas vivências, principalmente em suas criações. Desculpem o clichê da música abaixo, cantada por Louis Armstrong. Ele certamente debocharia da minha escolha, mas, às vezes, o foco mais afinado no óbvio ajusta nossa desconexão com a vida. E isso ele me ensinou com o milk-shake, que é ótimo!

 

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